sábado, 27 de dezembro de 2008

Arte???



1- A Arte

“(...) em síntese, significa habilidade, perícia, capacidade de fazer. Assim, quem a pratica, é chamado de artista ou mesmo artesão. O efeito ou fruto do trabalho do artista é considerado uma obra de arte."

Inúmeras significações de arte - sobre arte, como arte, para arte, etc - podem ser encontradas em dicionários, livros, revistas e na Internet. A cada autor, um significado. A cada tempo, uma relação. A cada espaço, uma percepção.
Arte é a resposta da capacidade que o homem tem de vivenciar tempo e espaço correspondendo através do ato criador às suas necessidades.
Segundo a filosofia de Aranha (1993, p. 345 e 348), pode ser entendida como, “uma forma de organização e de transformar a experiência vivida em objeto de conhecimento”, sem jamais “ser a conceitualização abstrata do mundo”, afinal, “ela é a percepção da realidade na medida em que cria formas sensíveis que interpretam esse mundo”.
Para Ostrower (1978, p. 11 e 12) o homem nasce e cresce, vivenciando e adotando comportamentos através de padrões culturais, históricos e consequentemente, coletivos. Assim sendo, “desenvolverá enquanto individualidade, seu modo pessoal de agir, seus sonhos, suas aspirações e suas eventuais realizações”.
Seja o contexto que for, o homem enquanto ser consciente e sensível terá a cultura como “referência a tudo o que o indivíduo é, faz, comunica, à elaboração de novas atitudes e novos comportamentos e, naturalmente à toda possível criação”.
A arte, assim como a cultura, se transmite, se acumula, se diversifica, se complexifica, se enriquece e até se extingue.

2- O Artista

“O artista não copia o que é; antes cria o que poderia ser e, com isso, abre as portas da imaginação”.

A missão do artista é interpretar o mundo em que vive em todos os seus aspectos, tendo como fonte primeira de sua expressão artística, a imaginação e a capacidade de discipliná-la e, de dar forma a seus frutos.
Assim, ele cria dando forma a algo novo em qualquer que seja o campo de atividade, estabelecendo segundo Ostrower (1978,p.9), “relacionamentos entre os múltiplos eventos que ocorrem ao redor e dentro dele, os configurando em sua experiência do viver e lhe dando um significado”.
Para Aranha (1993, p.339 e 346), o artista “tem de ser suficientemente flexível para sair do seguro, do conhecido, do imediato, e assumir os riscos ao propor o novo, o possível”, percebendo “pelo poder seletivo e interpretativo dos seus sentidos, formas que não podem ser nomeadas, que não podem ser reduzidas a um discurso verbal explicativo, pois elas precisam ser sentidas, e não explicadas”.
Em suma, para Aranha (1993, p.346), Através de sua obra, o artista cria símbolos da natureza e da vida humana, que “são obras de arte, objetos sensíveis, concretos, individuais que representam a experiência vital intuída pelo artista”.

3- O Ato criador

A criatividade é uma capacidade humana ligada às artes, à ciência e à vida em geral. Um dos sentidos de criar é imaginar. Imaginar é a capacidade de ver algo além do imediato, de criar possibilidades novas que, com coerência, faz-se revelar certos critérios que foram elaborados pelo indivíduo através de inspirações , escolhas e alternativas.
Assim sendo, a fonte de toda criação é a imaginação que se manifesta pela projeção de imagens, dando início assim, ao processo criativo. A livre imaginação é geralmente fantasiosa e não dirigida, ao passo que a imaginação construtiva , representa um esforço consciente de criar um produto imaginário com vistas a que outros vejam, ouçam ou sintam as sensações e imagens que o próprio artista experimentou. O processo de criação desenvolve-se, em três tempos: com o artista como força primeira; o intérprete como intermediário; e o público como destinatário final.
A perceptividade de si mesmo dentro do agir é um aspecto relevante que distingue a criatividade humana. Movido por necessidades concretas sempre novas, o potencial criador do homem surge na história como um fator de realização e constante transformação. Ele afeta o mundo físico, a própria condição humana e os contextos culturais.
O desenvolvimento da criatividade acontece no pleno exercício do comportamento exploratório e do pensamento divergente, incentivando o uso do imaginação, do jogo, da interrogação constante, da receptividade a novidades e do desprendimento para ver o todo sem preconceito, sem temor de errar.
A partir de um vácuo teórico, o artista concebe uma imagem; do nada gera algo vivente; do caos extrai a ordem, isto é, sintetiza, chega a uma relação de partes harmônicas. Para esse vácuo entre seu mundo e o do telespectador, o artista lança mão de um veículo, seja ele qual for, capaz de transmitir suas idéias, tornando-as assim apresentáveis a outros.
O ato criador abrange, portanto, a capacidade de compreender, relacionar, ordenar, configurar e significar, resultando em formas concretas traduzindo-se assim, em qualquer tipo de expressão esteticamente orientada transformada em símbolos e imagens visuais, verbais, cinestésicas, auditivas ou olfativas . Nessa busca de ordenações e de significados reside a profunda motivação humana de criar.
Parafraseando Niemeyer, criar é “a procura da terra com os espaços infinitos”.

4- A Obra de arte

As obras de arte, desde a Antigüidade até hoje, nem sempre tiveram a mesma função. Ora serviram para contar uma história, ora para rememorar um acontecimento importante, ora para despertar o sentimento religioso ou cívico. Foi só neste século que a obra de arte passou a ser considerada um objeto desvinculado desses interesses não artísticos, um objeto propiciador de uma experiência estética por seus valores intrínsecos.
O importante na obra de arte não é o tema em si, e sim, o tratamento que se dá ao tema, que o transforma em símbolo de valores de uma determinada época.
A obra de arte deve permanecer pelo tempo. É pois, tarefa do artista fazer o instante durar, dar permanência ao transitório. O artista é, assim, o único vitorioso na infindável luta humana contra o tempo, e a obra de arte é a cristalização de um momento, um elo entre o passado e o futuro, uma ponte entre a experiência individual e universal.


Fotografia: Irving Penn, Faucet and Diamonds from Harry Winston, 1963

OBS: Esse texto é na verdade o primeiro capítulo da minha Iniciação Ciêntífica: "Escola de Samba: A Haute Couture Made in Brazil"(2006).

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