terça-feira, 23 de junho de 2009

O Processo Criativo como a “Baba Antropofágica” de Lygia Clark


Segundo a filosofia de Aranha (1993, p. 345 e 348), a arte “é a percepção da realidade na medida em que cria formas sensíveis que interpretam esse mundo”. Seja qual for a experiência ou contexto, o homem enquanto ser consciente e sensível, terá a cultura como “referência a tudo o que o indivíduo é, faz, comunica, à elaboração de novas atitudes e novos comportamentos e, naturalmente à toda possível criação”.
Considerando o pensamento de Ostrower (1978, p. 11 e 12), o homem nasce e cresce, vivenciando e adotando comportamentos através de padrões culturais, históricos e conseqüentemente, coletivos. Deste modo, “desenvolverá enquanto individualidade, seu modo pessoal de agir, seus sonhos, suas aspirações e suas eventuais realizações”. Na obra de Lygia Clarck nota-se a temática do corpo coletivo como uma vivência de troca de informações entre as pessoas, como um entrelaçar de idéias individuais que criam um subjetivo novo.
Ao questionar e interpretar o mundo em que vive, o homem lança mão da imaginação, seja ela livre ou construtiva. A primeira, geralmente fantasiosa e não dirigida, contrapõe a imaginação construtiva , que representa um esforço consciente de criar um “produto” com vistas a que outros vejam, ouçam ou sintam as sensações e imagens que o próprio artista experimentou.
Analisando o processo criativo como uma projeção de imagens vê-se o potencial criador do homem surgir na história como um fator de realização e constante transformação, afetando o mundo físico, a própria condição humana e os contextos culturais.
Nietzsche ao abordar tal tema, diz do homem como criador de novos valores, sendo necessário destruir valores antigos e reelaborá-los. Desta forma se faz revelar um dos trabalhos de Lygia Clark: A Baba Antropofágica(1973). Nessa experiência sensorial, uma pessoa passa um carretel de barbantes na boca e solta passando a outras pessoas que acabam por engolir e misturar com sua própria baba. Essa experiência explica – através de uma metáfora - o ato de reinventar algo, ou seja, da criação nascendo de uma conjunção de referências pessoais, de uma corrente que se auto-consome.
O processo criativo abrange, portanto, a capacidade de compreender, relacionar, ordenar, configurar e significar, resultando em formas concretas traduzindo-se assim, em qualquer tipo de expressão esteticamente orientada transformada em símbolos e imagens visuais, verbais, cinestésicas, auditivas ou olfativas . Nessa busca de ordenações e de significados é que reside a profunda motivação humana de criar, ressaltando aqui, toda “subjetividade” nela inclusa.
OBS: Texto para a disciplina de Moda, Sociedade e Realidade do curso de Pós Graduação de Direção de Criação em Moda pela FAAP.
Fotografia: Lucas Samaras, Autopolaroids, 1969 - 1971

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